ROMPENDO COM A BINARIDADE MASCULINO E FEMININO NAS COMPOSIÇÕES BUARQUIANAS: UM ESTUDO DE "FOLHETIM" E "TANGO DE NANCY"

Roberto Gabriel Guilherme de Lima - UFRN

O gênero é algo histórico e socialmente constituído, mas essa idéia vem se tornando cada vez mais fluida e o homem passa assumir, de forma recorrente, o dito “comportamento feminino” apresentando a fluidez que o estudo de gênero denota. Chico Buarque é o compositor brasileiro que vem (des)conectando a binaridade homem/mulher em suas canções. Ele passa a emprestar suas canções para dar voz às mulheres e ao mesmo tempo potencializa e vitaliza suas narrativas de vida. Antes de se introduzir as canções ditas femininas de Chico Buarque, tenta-se compreender o gênero como algo constituído socialmente, abrangendo essa constituição social do gênero em estudiosos como: Judith Butler, Guacira Lopes Louro, Michel Foucault, Thomas Tadeu da Silva, Stuart Hall, Sócrates Nolasco, entre outros que compreendem a fundamental política da identidade e do gênero. A mulher buarquiana vem revolucionando sexualmente desde a década de 70 ao enunciar discursos acerca de seus prazeres sexuais e suas aventuras amorosas, comportamento, antes, só enunciado e assumido pelos homens. Mas, como se percebe na materialidade lingüística das canções de Chico essas mudanças de comportamento? Como a mulher nas canções de Chico Buarque passa a assumir comportamentos ditos e consagrados como masculinos? É a partir desses questionamentos iniciais e tomando como pressuposto que as canções do compositor passam a apresentar uma ambigüidade textual e que ser queer é romper com as binaridades e consagrar uma indeterminação textual, que o objetivo deste trabalho é descrever na materialidade lingüística de duas canções de Chico como se dá a desconstrução das identidades “homem” e “mulher” que por muito tempo se mantiveram intactas e que foram decorrentes desta distinção binária. Por fim, nesta reflexão a análise das canções demonstrou ser possível perceber efeitos de sentido de mudanças no comportamento das mulheres, ao relatarem em suas histórias de vida, “segredos” encobertos pelo discurso hegemônico masculino.