AS TRANSFIGURAÇÕES DISCURSIVAS DA REPRESENTAÇÃO DO CAMPONÊS: DE JECA TATU A ZÉ BRASIL

Mário Luís Simões Filho - UFPB

Pautado pelo cientificismo vigente dos fins do século XIX e inícios do século XX, base teórico-ideológica na qual se assentam as perspectivas do progresso e da civilização ocidental, Monteiro Lobato alinhar-se-ia, ao longo de sua vida, à variadas posições ideológicas. Desse alinhamento, resultariam diversas configurações dos traços físicos e sociais do mundo caboclo. Neste estudo, seguindo itinerário esboçado por Marisa Lajolo, nos voltaremos para as narrativas lobatianas acerca do homem rural, escritas entre 1914 e 1947. Nesta tarefa, observaremos que, num percurso iniciado com a criação de Jeca Tatu como ícone do novo em nosso sistema literário, Monteiro Lobato caminharia da intolerância elitista e senhorial (“Velha Praga” e “Urupês”) a uma solução generalizante, ingênua e paternalista (“Jeca Tatuzinho”), à reivindicação da distribuição da terra (“Zé Brasil”). Trilhando, contraditoriamente, o caminho da tradição, Monteiro Lobato permaneceria fiel ao Naturalismo, propondo, através da literatura, a inserção do caipira no mundo do capital, do progresso, da ciência e da riqueza individual. Num último momento, revisitando o seu próprio percurso, proporia a distribuição das terras como solução da injusta condição do camponês do Brasil.

Palavras-chave: Literatura. Sociedade. Identidade Cultural.