CARLOS DRUMONND NO POEMA CARTA: A DESCOBERTA GRADATIVA DA PASSAGEM DO TEMPO?

Maria Edileuza da Costa - UERN

O poema “Carta” faz parte do livro A Paixão Medida, de 1980. E segundo alguns críticos, esse livro é o prolongamento do próprio eu do autor, pois mostra uma preocupação com o tempo-passado, presente e futuro, onde a realidade é marcada por signos positivos e negativos, como se o poeta quisesse impedir de se ver. Através das isotopias contidas na organização do texto, podemos observar que o poema oferece ao leitor, duas ou mais possibilidades de leitura. De que trata então o poema Carta de Drummond? Literalmente de uma carta escrita pelo poeta a alguém que poderia ser a sua mãe? Ou figuradamente, a descoberta de uma velhice melancólica? A primeira possibilidade nos levaria a uma carta escrita por um “eu” que sente saudades de alguém; isso seria justificado pelo próprio título do poema, Carta. A partir da seqüência do texto há uma descaracterização da proposta do título, pois este será desenvolvido na forma de um soneto e a maioria dos verbos do texto estarão no passado. Ex: envelheci, fazias, dizias, abria, possibilitando ao eu-lírico uma manifestação melancólica em relação à passagem do tempo e da vida. O objetivo maior do nosso trabalho é, portanto, fazer uma leitura poética, mostrando as suas possibilidades de interpretação. Para isso tomamos como base o texto Leituras Poéticas de João Batista de Brito.