GERUNDISMO, VARIAÇÃO E PRECONCEITO LINGÜÍSTICO
Fábio Fernandes Torres - UFC
O futuro possui, conforme Fiorin (1996), um valor temporal que não permite expressar uma modalidade factual, já que seu valor de verdade não pode ser determinado no momento da enunciação, pois expressa asserções que dependem da avaliação que o enunciador faz da necessidade, possibilidade ou impossibilidade de um determinado estado de coisas. Tal peculiaridade, segundo Gibbon (2000), permite afirmar que há sempre um valor modal ligado ao valor temporal e faz do tempo futuro o mais polêmico dos tempos verbais. A polêmica torna-se maior quando se trata da expressão de tempo futuro por meio de perífrases verbais com gerúndio. Essa forma do verbo, a exemplo do ocorre com o infinitivo, alia-se a outros verbos para expressar tempo futuro, formando perífrases, algumas delas com até três verbos. Embora seja uma forma amplamente usada em português brasileiro, o gerúndio não goza do mesmo prestígio que as outras formas nominais do verbo e seu uso na língua moderna, em perífrases que expressam tempo futuro, tem sido chamado indiscriminadamente de gerundismo e tem sido tratado, como vício de linguagem, praga, doença, mania, modismo, registro não-padrão. Sob a égide desse discurso, lemos em jornais e na internet colunas inteiras que ganham lugar de destaque pelo tom de deboche e de desprezo de seus autores para com o fenômeno, em nome de um ufanismo demagogo, oportunista e falso de defesa da língua portuguesa. Essas colunas estão recheadas de preconceitos e tentam culpar o brasileiro de deturpar a língua portuguesa, ainda com um sentimento subserviente, colonizado e com os olhos voltados para o padrão europeu, sob o pretexto de que o que não é falado em Portugal simplesmente não é português. Neste trabalho, trataremos de gerundismo, do fenômeno de variação a que está submetido e de preconceito lingüístico.