LINGUAGEM E RECONSTRUÇÃO DO SUJEITO EM CLARICE LISPECTOR

Ailton Siqueira de Sousa Fonseca - UERN

Este trabalho é o resultado de uma longa pesquisa doutoral intitulada “A odisséia de si: reconstrução do homem em Clarice Lispector”. Em sua vida e obra, essa escritora usou a palavra escrita para tocar aquilo que a própria palavra não consegue revelar por complexo: a condição do ser-no-mundo. Sua literatura é um mergulho profundo e introspectivo nos mistérios da linguagem e na complexidade do ser. Em suas tramas as coisas estão sempre “se fazendo”. São narrativas erráticas como se estivessem em busca da origem ou dos princípios das coisas, algo que lembra a busca do elemento primário na filosofia pré-socrática. Nessa busca, a escritora ultrapassa as barreiras disciplinares da ciência, os limites da racionalização ocidental e os rigores da linguagem; depara-se, assim, com o inominável, com “a coisa em si”, sem nome nem linguagem correspondente, mas que - por um estranho paradoxo - somente a linguagem pode dela falar e fazê-la compreensível. Meu objetivo é fazer uma reflexão sobre a linguagem e a constituição do sujeito na obra de Clarice Lispector, especificamente no romance A maçã no escuro porque é nele que podemos melhor perceber o homem inaugurando a odisséia de si mesmo. Martim, o protagonista, é a imagem arquetípica do homem que ao tentar se reconstruir por meio de uma nova linguagem reafirma a si e a linguagem existente. O sujeito e linguagem se fazem em dialogia. A linguagem cria o sujeito que a cria. Esse romance é considerado, aqui, um romance-núcleo, no qual o sujeito vive o problema antropológico de se refazer pela raiz, de se tornar o que é.