NARRANDO A PRÓPRIA VIDA PARA CUIDAR DE SI: MULHER LÉSBICA E NEGRA SAINDO DO ARMÁRIO

Marluce Pereira da Silva - UFRN
Cássio Eduardo Rodrigues Serafim - UFRN

Neste trabalho, analisamos o tema do cuidado de si num conto que se configura numa autonarrativa de experiência de uma mulher negra que se casa com um homem branco, um professor universitário. Essa narrativa não só apresenta o enfrentamento de práticas invisibilizadoras de um pertencimento étnico-racial, quanto de uma identidade de sexualidade. Realizamos um gesto interpretativo do conto Meu marido é meu melhor amigo, de Blake Aarens (1998), que mostra evidências de um projeto identitário, manifestando-se, ao mesmo tempo, como uma viagem para o autoconhecimento e como testemunho de uma luta por respeito e visibilidade através da escrita de si “para mostrar-se, dar-se a ver e fazer aparecer o rosto próprio junto ao outro” (FOUCAULT, 1992, p.150), como resistindo às forças que tentam invisibilizar a sua existência. O nosso objetivo é analisar na narrativa supracitada estratégias lingüístico-discursivas de manutenção e/ou enfrentamento de práticas discursivas e não-discursivas que convergem para a produção de determinados modelos de identidade e de subjetividades na contemporaneidade, tomando dimensões de gênero, de raça e de sexualidade. Apoiamos a nossa análise em autores como Foucault (1979; 1985; 1992; 2004), Butler (2003), Hall (2000), Costa (1992), entre outros que contribuem com o debate em torno de práticas discursivas, questões identitárias, modos de subjetivação e relações de poder.