O HOMOEROTISMO NA LITERATURA DE FICÇÃO E A CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADE

Carlos Eduardo Albuquerque Fernandes - UEPB

A emergência de práticas discursivas em favor do homoerotismo faz com que se questione a repressão que relegou os sujeitos gays a posições marginalizadas no espaço sociocultural. A literatura problematiza este conflito ao representar os sujeitos homoerôticos no foco desta questão, possibilitando um novo olhar para a condição gay. Nesse sentido pretende-se descrever os processos de representação do sujeito de orientação homoerótica na chamada literatura gay, mais especificamente nas obras Bom-Crioulo (2002), de Adolfo Caminha; O segredo de Brokeback Mountain (2006), de Annie Proulx; Julieta e Julieta (1998), de Fátima Mesquita; Morangos Mofados (2005), de Caio Fernando Abreu; e Sobre rapazes e homens (2006), de Antonio de Pádua Dias da Silva, verificando, através desta representação, se é possível construir uma identidade gay. Baseia-se numa perspectiva culturalista de representação de sujeitos na literatura, a partir de Silva (2007a e 2007b) e de Barcellos (2006); e de construção das identidades culturais, sobretudo em Hall (1997), dentre outros autores. O critério que norteou a escolha do corpus foi a focalização da temática gay nas obras em questão. A partir da análise do corpus, percebe-se que as narrativas elencadas representam os sujeitos gays de maneira positiva, isto é, apresentam os sujeitos ficcionais do ponto de vista da aceitação, do respeito, da tolerância pelo diferente, concebendo o homoerotismo não como uma derivação da heterossexualidade, mas como uma condição necessária para o fortalecimento das identidades de gênero discutidas na contemporaneidade. Pode-se concluir que a representação dos sujeitos homoeróticos no corpus aponta uma identidade positiva para esta subjetividade. Esses sujeitos não são atrelados a descrições estereotipadas do modelo de gay “afetado” e “doentio”, conforme visão médico-jurídica do século XIX. As obras delineiam sujeitos ficcionais que rompem com o paradigma repressor da heteronormatividade, que também é representado nos textos, gerando conflitos que desencadeiam sempre num discurso subversivo e sensibilizador para a mudança na maneira de perceber o outro.

Palavras-chave: Literatura. Homoerotismo. Identidade.