A NEGA AINDA TEM CABELO DURO? RE-SIGNIFICAÇÕES DO CABELO CRESPO NA CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADES NEGRAS
Amanda Batista Braga - UFPB
A partir de 1996, o Brasil assume políticas de identidade para negros em detrimento das políticas de integração cultivadas anteriormente, é quando surgem, no país, as chamadas políticas de ações afirmativas. A partir desse momento, o combate ao racismo passa a ser operado por uma ótica afirmativa: ratificando positivamente as diferenças, através do discurso do orgulho negro. Nossa pesquisa problematiza os discursos produzidos sobre e por essas políticas afirmativas, usando, para tanto, os discursos veiculados pela mídia impressa, procurando investigar as relações de poder e os modos de produção identitária que daí emerge. E, a fim de entendermos e discutirmos a produção dessas identidades, lançamos luz sobre a relação que o negro estabelece com sua estética. Nesse contexto, encontramos no cabelo crespo um símbolo produtor de sentidos a partir do modo como é significado e re-significado. Cenário de relações de poder, a relação do negro com o cabelo não é unilateral, queremos demonstrar como os usos e os sentidos atribuídos a ele são parte do processo de construção de uma identidade. Nossa pesquisa é, portanto, uma análise dos efeitos de sentido inscritos nos discursos das políticas afirmativas, das relações de poder que os atravessam e dos processos de construção identitária que se dá nesse contexto. Contamos, para isso, com as ferramentas teóricas e metodológicas da Análise do Discurso de linha francesa, pautadas, principalmente, nas propostas de Michel Pêcheux e Michel Foucault, bem como com as contribuições da antropóloga Nilma Lino Gomes, que nos dará suporte para entender o cabelo crespo enquanto linguagem.