O QUADRO EXPRESSIONISTA DO SERTÃO – A SOCIEDADE SERTANEJA SOB O OLHAR DOLOROSO DE JOÃO CABRAL
Carlos André Pinheiro - UFRN
João Cabral de Melo Neto passou grande parte da vida viajando pelo mundo (conseqüência da carreira diplomata) – o que pode justificar o alto número de descrições geográficas e de análises sociais. Com efeito, o poeta oferece uma visão muito apurada das sociedades nas quais esteve inserido. Não se deve esquecer, entretanto, que – dentro do seu plano de viagem – o Nordeste brasileiro merece destaque pela força lírica e pela recorrência contumaz em sua obra. As regiões afetadas pela seca constituem um dos seus cenários majoritários. Quando retrata esses ambientes, o poeta emprega imagens demasiado enfáticas com o intuito de acentuar a sua condição desumana. Se for permitido fazer uma associação com a linguagem pictográfica, pode-se dizer que a obra de João Cabral comporta a mesma expressividade crua que se vislumbra na série de quadros Os retirantes, do pintor Candido Portinari. É ainda por meio da representação do sertão que o poeta denuncia a falta de assistência social e a exploração a que são submetidos os habitantes dessa terra; com efeito, os homens têm uma vida tão precária e desprovida de recursos financeiros, que eles assemelham já estarem mortos. Por outro lado, ao descrever as cenas sertanejas, o poeta encontra meios de registrar o cotidiano desse povo: costumes, culinária, festividades, práticas religiosas e mitos são alguns dos elementos sócio-culturais a que Cabral recorre com mais insistência. Com isso, não se pode deixar de registrar a presença de certo sentimento humanizador em sua poética, uma vez que o poeta se mostra bastante preocupado com a situação penosa dos povos explorados em sua região de origem.