A PRESSUPOSIÇÃO COMO ESTRATÉGIA ARGUMENTATIVA NO DISCURSO POLÍTICO
Paulina de Lira Carneiro - UFPB
Objeto de estudo de uma longa tradição filosófica e foco de debates sobre sua natureza semântica e ou pragmática no interior da Lingüística, a pressuposição consiste em um tipo de implícito ou conteúdo inferencial. Concebida, inicialmente, como uma condição a ser satisfeita para o emprego normal de um enunciado, o enfoque atual sobre a pressuposição, no quadro da semântica argumentativa, enfatizará sua atuação como estratégia discursiva. Ao veicular implicitamente informação pressuposta, o locutor impõe um horizonte discursivo ao seu interlocutor, salvaguardando certos conteúdos de contestação posterior por parte deste último. O pressuposto é, portanto, “apresentado como uma evidência, um quadro incontestável no interior do qual a conversação deve necessariamente inscrever-se” (DUCROT, 1987, p.20). Neste trabalho, enfocaremos o fenômeno semântico-pragmático da pressuposição, investigando sua presença em um corpus específico, a saber, o discurso político. Particularmente, procederemos a uma análise sucinta de um conjunto de excertos extraídos de dois discursos do presidente Luís Inácio Lula da Silva, proferidos por ocasião de sua reeleição no pleito eleitoral de 2006. Na análise dos referidos recortes textuais, procuraremos comprovar, a partir da perspectiva teórica de Ducrot (1977, 1987), que o uso de conteúdos implicitados sob a forma de pressupostos se reveste de caráter eminentemente argumentativo, constituindo mesmo uma estratégia discursiva do locutor, na medida em que impõe ao interlocutor a aceitação de um conjunto de informações colocadas como (supostamente) pertencendo ao domínio partilhado pelos interlocutores.