CONSTRUINDO NARRATIVAS DE CAMPONESES: SABERES E FAZERES DO ETHOS
Ana Lúcia Aguiar Lopes Leandro - UERN
Este artigo analisa narrativas de sujeitos camponeses tomando como categorias de análise princípios da pertença e códigos de conduta considerados aqui como aqueles que informam a gramática do comportamento e consolidam sentimentos de inclusão que propiciam ao indivíduo uma identidade social e um código gregário. Portanto, o ethos de um povo (KROEBER, 1963; GEERTZ, 1978; CANIELLO, 2001) estão sendo tomados nesse trabalho para trazer a experiência de saberes e fazeres do ethos de um grupo de alunos camponeses do Projeto Pedagogia da Terra, da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. Suas narrativas informam de uma cultura, da força criadora carregada de significados da prática e na possibilidade, a partir da gramática da terra, uma pedagogia da prática, nos termos de Freire (1999), sinalizadora da construção de novas metodologias, novas abordagens, novos parâmetros para a ação pedagógica. Apresentamos e analisamos as interações e trocas de saberes e fazeres ocorrido durante o período de permanência no campo argumentando que contribuíram com o vislumbrar de outro caminho metodológico para o ensino-aprendizagem cuja ética ancore-se no reconhecimento e respeito do saber produzido pelo outro. Proporcionar, através da troca, no sentido mausseano, o relevo do saber camponês em seu diálogo com o saber acadêmico alimentando-o com o saber da natureza, suas formas de produção, suas tensões, suas redes de reciprocidade. O ethos como o tom, o aroma no resgatar da auto-estima dos educandos e a sua inserção na dinâmica social como um todo. Este artigo, por fim, visa apresentar os lugares do fazer e saber construído pelos alunos camponeses e educador tendo duas passagens obrigatórias: o estranhamento do familiar e o entendimento de que a realidade é mais complexa do que a teoria pode dar conta. Ademais diluir dicotomias, suspender o autonomismo, ler a experiência dos saberes de sujeitos camponeses nos gestos do corpo, na força das mãos lavrando a terra, na organização de seu cotidiano de resistência, sonho, desejo, discurso.